terça-feira, 13 de outubro de 2015

Apenas parem



Um dia desses fui com o meu filho em um buffet infantil para festa de uma amiguinha. A música que anunciou que a pista de dança estava aberta para os pequenos foi: “Prepara. Que agora. É hora. Do show das poderosas. Que descem. Rebolam. Afrontam as fogosas. Só as que incomodam. Expulsam as invejosas. Que ficam de cara. Quando toca”. “Show das Poderosas”, da funkeira Anitta.

Festinha do dia das crianças do condomínio ao lado de onde moro, ano passado. Vejo um “pula-pula” sendo montado logo cedo. Escorregador inflável. Avisto um palhaço. Mas sabe como soube que a festa finalmente tinha começado, horas depois? “Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei. Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei. Meu exército é pesado, a gente tem poder. Ameaça coisas do tipo você.”

E comecei a pensar de onde as pessoas tiraram a ideia de que essa música tem alguma relação, mesmo que remota, com o universo infantil. E quero deixar claro que não tenho nada contra a Anitta. Mesmo. Acho que ela tem seu valor, que “Show das Poderosas” deve ser uma música ótima para dançar na balada. Mas não consigo entender como ouvir “descem, rebolam, afrontam as fogosas” pode ajudar na formação ou no vocabulário do meu filho ou de alguma criança deste mundo.

Mas voltemos à festa no buffet para que justiça seja feita, afinal, não foi só a música da Anitta que apareceu por lá . Logo começou uma “gemeção”: “Nossa. Nossa. Assim você me mata. Ai, se eu te pego. Ai, se eu te pego. Delícia. Delícia. Assim você me mata. Ai se eu te pego, ai, ai…”

Gosto muito do Michel Teló. Inclusive já o entrevistei uma vez. Ele faz sucesso no mundo todo, do Brasil à Romênia. Fez com que gente que nunca tinha falado uma palavra de português começasse a cantar na nossa língua. Samuca logo quis saber do que se tratava aquela letra quando assistiu ao clipe de “Ai se eu te pego” no Youtube – a música, patrocinada, aparecia sempre antes do desenho favorito dele. Expliquei, num susto, que o “ai se eu te pego” era sobre brincar de pega-pega. E me senti esperta. Só que na festa eu estava alerta e com medo de não ser tão rápida no gatilho se viesse uma próxima pergunta. Por isso logo tirei meu filho de lá com um argumento infalível: “vamos comer um brigadeiro?”. Dito e feito. “Mulheres na frente, os homens atrás. Mão na cabeça que vai começar. O rebolation, tion o rebolation, o rebolation, tion, rebolation”.

Claro que esse tipo de música não toca em todos os buffets infantis. Claro que a grande maioria de mães e pais tem cuidado na hora de escolher o que os filhos podem e devem escutar quando o assunto é música. Ainda bem.

Aposto que vão chover e-mails dizendo que “não podemos colocar nossos filhos em uma redoma de vidro”. Ou que “essas músicas tocam na rádio o dia inteiro, não há como evitar que eles ouçam” ou que “isso é questão de gosto” e até coisas mais pesadas: “Nossa, Rita, como você é preconceituosa! Funk é um movimento cultural e musical e… ” e blá blá blá.

Só acho mais legal que meu filho saiba que “com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”. Ou que queira “pegar carona nessa cauda de cometa, ver a via láctea, estrada tão bonita. Brincar de esconde-esconde numa nebulosa. Voltar para a casa, nosso lindo balão azul!”

Muito anos 80? Pode ser.

A letra da música preferida de Samuca, menino fabricado em 2009/modelo 2010, é essa: “Acordei com o pé esquerdo. Calcei meu pé de pato. Chutei o pé da cama. Botei o pé na estrada. Deu um pé de vento. Caiu um pé d’água. Enfiei o pé na lama. Perdi o pé de apoio. Agarrei num pé de planta. Despenquei com pé descalço. Tomei pé da situação. Tava tudo em pé de guerra. Tudo em pé de guerra”.

Ontem começou uma chuvona dessas que caem todo fim de tarde em São Paulo. E Samuca comenta comigo, todo feliz e sabido. “Que pé d´água, né, mamãe?”

PS: Obrigada, Palavra Cantada – Sandra Peres e Paulo Tatit – pela graça alcançada.

RITA LISAUSKAS

sábado, 10 de outubro de 2015

Pequenas batalhas, grandes vitórias


Quer saber uma grande verdade?
Não se vence uma guerra sem antes ter lutado, ganhado e perdido inúmeras pequenas batalhas.
A vida tem me ensinado a apreciar minhas pequenas vitórias, ao invés de esperar sempre pelo grandioso sucesso.

Afinal, são esses momentos que nos revelam, que nos transformam na melhor versão de nós mesmos.

Hoje aprendi a enxergar minha felicidade no sorriso daqueles que eu amo. 
Em cada elogio ao meu trabalho. 
Em cada superação dos meus próprios limites. 
Em cada passo dado em direção a um objetivo maior. 
Na satisfação em ver uma meta cumprida. 
Na minha vida. 
Nas pessoas que conquistei, não por minha utilidade, mas simplesmente por ser eu mesma, com todas as minhas imperfeições.

Não me cobro tanto. Não mais. 
Tenho perdido, gradualmente, o medo de errar.

Aliás, vale ressaltar aqui que é errando que se aprende o certo. 
Não há como descobrir um novo caminho se não houver a tentativa. E tentativas, meu caro, implicam em erros. Muitos deles. 
Essa é uma realidade que não aprendemos em escolas. 

Vivemos cercados de paradigmas que nos impõe a perfeição. Não há estímulo para o novo e para a criatividade. 
Tudo tem de ser dentro de padrões e regras. Não há espaço para o questionamento. Enquanto a dúvida é o principal combustível para a sabedoria.

Grandes gênios só foram descobertos porque ousaram. 
Não se conformaram com uma realidade imposta, mas procuraram por sua própria verdade.

Keissy Kelly

As preocupações que matam

Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?



O homem está sempre preocupado. Porque é imenso e infinito, nele há sempre lugar para um mundo de preocupações.

Há muitas preocupações que são mais por natureza e que é preciso eliminar. Mas há outras, verdadeiras e nobres; mas o homem é muito pequeno para carregá-las e mais ainda para solucioná-las. As preocupações matam o homem; se ele quiser viver e viver bem, é preciso que alguém o ajude a carregá-las, “Alguém” que o espera.

Você está doente do fígado
Com dor de cabeça
Uma crise aguda de asma
Você está com úlcera no estômago

ou então

Seus cabelos estão ficando brancos
Seu rosto começa a enrugar-se

ou ainda

Você está cansado e triste:- “Quantas preocupações!”
– “Estou sobrecarregado!”
– “Nunca mais terei sossego!”

e arrasta um pobre corpo sempre contraído e doloroso, um coração esmagado, que vive porque é preciso viver, mas que não sabe o que é a alegria e a paz.

Em grande parte, não seria porque você está cheio de preocupações, de aborrecimentos que, você vem recolhendo e acumulando há anos, que o corroem, que o consomem, e que o desagregam silenciosa, mas implacavelmente?

O que o abala não são tanto os golpes que você recebe do exterior, mas tudo que de mau você encerra em si, e que borbulha, fermenta, apodrece.

O ciúme que o morde, tanto aquele que você admite francamente, quanto o que se esconde atrás de suas tristezas, suas mágoas, suas palavras, seu mutismo.

O despeito de não brilhar, de não ser notado, preferido… o medo de tal pessoa, acontecimento, tentação e medo de desagradar, de fazer “gafes”, de falhar… a cólera e a vingança: ele me pagará, isso não ficará assim, ah! se eu o pegasse!… as dúvidas: não conseguirei, é impossível, muito difícil para mim, ele não me compreenderá.

As saudades do passado: se eu soubesse, se fosse possível recomeçar, nunca me consolarei, ai os “bons tempos”, nunca mais… as mentiras, os ódios, as críticas negativas, as maledicências, as calúnias, as invejas … e todo o resto: a ironia que você destila a cada dia em suas palavras, os seus sorrisos escusos, os seus suspiros, suas “rabugices”, seus dar de ombros, ou as suas manobras. Esse mal que vive em você ou sai de você fere-o, antes de ferir os outros.

Seu coração é imenso, mas está atravancado como um armário mal arrumado. As gerações passadas aí deixaram suas velharias (como lhe legaram seus móveis) e você o vai enchendo de futilidades ou sujeiras. E também de objetos caros que você quer usar de novo… mas que você teima em camuflar. 

A lembrança de tal devaneio malsão, daquela leitura, daquele olhar… O gosto daquela paixão, a satisfação daquela vingança, o prazer orgulhoso daquele brilhante sucesso… Por que você não se acostuma a frequentemente fazer a revisão de suas lembranças, para encontrar aquilo que deveria ter jogado fora?

Há ainda o mal que você sente, vê, toca. Mas há também aquele que está escondido, que desapareceu de sua vista, e há também aquele que você desprezou e esmagou, e que lhe parece morto para sempre.

Nisso você está errado. Tudo o que está dentro de você está vivo. Vivo quando você pensa, vivo quando você não pensava, vivo de dia, vivo de noite. E tudo o que está vivo em você e é mau, faz mal.

Não é possível; aquele velho rancor, essa mágoa de minha sensibilidade dolorida; tal incompreensão, desdém, abandono, desprezo; tal decepção em meus negócios, em minhas relações, em minha família… essa tribulação, aquele pecado… não existem mais, estão enterrados, não voltemos ao assunto!

Não meu caro, eles existem ainda, e mesmo que estivessem mortos, seu cadáver ainda está em você, e seu odor o empesta.

O rato morto no sótão não o envenenará mais… quando você o tiver tirado de lá.

O prego do pneu de seu carro não furará mais a câmara de ar… quando você o tiver tirado.

Sua coleção de preocupações de ontem e de hoje as pequenas e as grandes, as legítimas e as ilegítimas, não o acabrunharão mais, quando você as tiver jogado fora.

Há falsas inquietações, aquelas de que você não deve orgulhar-se e de que precisa definitivamente desfazer-se, pedindo perdão; e há também as preocupações justas: as do pão a ganhar, as do futuro a assegurar, da educação a dar, da paz e da justiça a instaurar, dos homens a conquistar, do Mundo a salvar. 
Essas inúmeras preocupações, acumuladas cotidianamente, em cada instante, em cada gesto, em cada encontro, ao menos essas, será que você deve carregar?

Não, você é muito fraco. Deixe que outro as carregue.
Mas, eu não terei nada que fazer!
Sim, você tem que dar!

Isso é muito fácil!

Não, é muito difícil ser criança, nada reter para si, dar sempre tudo, mesmo as alegrias –para que o outro tudo carregue.
É muito duro caminhar sempre ao seu lado, sempre lhe dando a mão e tornar-se tão pequeno, tão humilde, tão simples, que possa aceitar ser carregada.

Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?

Michel Quoist

Do site http://cleofas.com.br/ - Prof Felipe Aquino