quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Feliz livro novo

Ontem a noite, perdi o sono e resolvi vagar pela casa em busca de alguma coisa relaxante pra fazer. E, observando cuidadosamente cada pedaço, ainda na penumbra, vi alguns papeis bem dobrados sobre a mesa. Quando abri, lembrei que no dia anterior meu marido havia trazido os papéis que estavam em uma pilha na mesa do caixa eletrônico do banco, onde normalmente preenchemos os envelopes de depósito. Lembrei que ele disse: ‘alguma alma boa deixou isso no banco…”. E parei para ler.

Era um maço de papel com mensagens sobre amor, paz, felicidade, espiritualidade e pensamentos positivos, amizade e tantos outros sentimentos que nem sempre nos lembramos no dia-a-dia. Nesse maço de papel, logo na primeira página, tinha um poema…




“Encerra-se mais um ano em sua vida…

Quando este ano começou, ele era todo seu.

Foi colocado em suas mãos…

Você podia fazer dele o que quisesse…

Era como um Livro em Branco, e nele você podia colocar um poema, um pesadelo, uma blasfêmia, uma oração.

Podia…

Hoje não pode mais, já não é seu.

É um livro já escrito… Concluído.

Como um livro que tivesse sido escrito por você, ele um dia lhe será lido, com todos os detalhes, e você não poderá corrigi-lo.

Estará fora de seu alcance.

Portanto, antes que este ano termine, reflita, tome seu velho livro e o folheie com cuidado.

Deixe passar cada uma das páginas pelas mãos e pela consciência, faça o exercício de ler a você mesmo.

Leia tudo…

Aprecie aquelas páginas de sua vida em que você usou seu melhor estilo. 
Leia também as páginas que gostaria de nunca ter escritas. Não, não tente arrancá-las. Seria inútil. Já estão escritas.

Mas você pode lê-las enquanto escreve o novo livro que lhe será entregue.

Assim, poderá repetir as boas coisas que escreveu, e evitar repetir as ruins.

Para escrever o seu novo livro, você contará novamente com o instrumento do livre arbítrio, e terá, para preencher, toda a imensa superfície do seu mundo.

Se tiver vontade de beijar seu velho livro, beije-o.

Se tiver vontade de chorar, chore sobre ele e, a seguir, coloque-o nas mãos do Criador.

Não importa como esteja…

Ainda que tenha páginas negras, entregue e diga apenas duas palavras: Obrigado e Perdão.
E, quando o Novo Ano chegar, lhe será entregue outro livro, novo, limpo, branco todo seu, no qual você irá escrever o que desejar…
FELIZ LIVRO NOVO!”

Fiquei encantada não apenas com o poema, nem apenas com as outras mensagens que tinham no maço de papel. Fiquei emocionada com a atitude: alguém, em algum lugar dessa cidade louca, desse mundo louco, se deu ao trabalho de parar alguns minutos, selecionar alguns textos, imprimi-los e espalhá-los para que tantas outras pessoas pudessem ter acesso e de alguma forma fosse abençoadas com essas palavras!

Desejo a quem deixou essas folhas no banco um livro novo cheio de páginas coloridas e alegres, onde as histórias escritas sejam, em sua maioria, cheias de amor e felicidade!

A você que está lendo, desejo mais uma coisa (além de tudo acima): desejo que você também pare alguns minutos e compartilhe alegrias e bençãos para as pessoas que você ama!

Do site ... http://www.girafadepapel.com.br/boas-festas/...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A sensação do não-feito

“Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo”, 
Carlos Drummond de Andrade

.
Muitas pessoas dizem no fim do ano que o próximo será diferente. 
“Farei o que não fiz”; 
Ir à igreja, na academia regularmente, 
fazer dieta, 
ler mais, 
ser mais generoso (a), 
comprar um carro, casa ou reformá-la 
são alguns dos itens que aparecerem no primeiro parágrafo da lista fictícia.

Alguns ficam tristes olhando para trás relendo sua lista imaginária do que não cumpriu. Mas, devemos levar em consideração que se não foi realizado há sempre um bom motivo para isso. 
Se perguntar o porquê não fez determinada coisa vai ajudar a encontrar razões afetivas para explicar o não-feito ou adiamento de determinada ação.

Organizar metas a curto, médio e longo prazo é tradição. Faz parte da “Festa da Virada”, apesar de que a euforia dura um dia. 
O primeiro dia do ano. O resto, míseros 364, chega como um tsunami logo no dia seguinte.

Quero dizer aqui neste breve comentário que não há necessidade de martírio pelo que não foi realizado. 
Há um longo caminho pela frente e que o ano novo seja repleto de boas oportunidades para fazê-lo.

Deixo aqui as palavras de Drummond: “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.

Por Roney Moraes
Jornalista, Psicanalista, Teólogo

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Como são os olhos de um Pai?


Pergunta a um oftalmologista!
Não!
Pergunta a um filho!


Se lembro bem os olhos do meu Pai eram transparentes, quero dizer, lia-se neles como num livro aberto.


Percebia perfeitamente quando estava contente comigo ou, se o que eu fizera ou tinha dito, não eram do seu agrado.


Não usava lentes que aumentassem ou diminuíssem o seu afecto por mim, eram sempre o mesmo… quer dizer… comprazido ou algo decepcionado.


Os olhos do meu Pai eram, por assim dizer, o meu espelho onde podia ver com meridiana clareza “como andava a minha vida”.


Lembro-me que – deveria ter os meus catorze anos que é uma idade importante num rapaz – ter chegado a casa por altura das férias de Natal e de lhe ter oferecido com grande orgulho e satisfação pessoais, a minha “caderneta” com as “notas” do período escolar.


Eram ótimas notas, a média de dezoito valores atribuíra-me o terceiro lugar na minha classe.


Mas quando vi os olhos do meu Pai tive uma surpresa enorme: não mostravam nenhuma satisfação especial, talvez até, houvesse neles algum laivo de decepção.


Fiquei, penso eu com toda a justiça, alterado, e perguntei:


‘Mas… Pai… média de dezoito… o terceiro da aula!!!’


A resposta foi “demolidora”:


‘Bom… está bem! Mas houve pelo menos dois colegas teus que tiveram médias de dezenove e vinte, um terá ficado em segundo lugar e o outro terá sido o primeiro da classe!’


Fiquei sem palavras, sem explicação nenhuma que pudesse aduzir: o que o meu Pai acabara de dizer era absolutamente verdade!


Olhei os seus olhos de novo e então vi neles uma centelha de incentivo, de desafio.


A verdade é que, no período seguinte, pela Páscoa pude entregar-lhe a “caderneta” com média de vinte e classificação de primeiro da classe.


Os seus olhos então, disseram-me claramente:


‘Vês como eu tinha razão e tu podias…’


Os olhos de um Pai vêm muito… muitíssimo mais longe que os olhos de um filho!



Publicada por Spe Deus

sábado, 5 de dezembro de 2015

A malícia da fofoca



Quem de nós gostaria que falassem mal de nós pelas costas?
Ninguém, não é verdade? No entanto, é justamente isto a fofoca! 
O que é a fofoca, senão falar mal dos outros quando eles não estão presentes?

Pois bem, sendo esta a realidade da fofoca, que frutos ela traz consigo? Algo que todos nós nos queixamos diariamente e que aparentemente não tem nenhuma relação, mas tem: a maldade que há no mundo!

Como assim, alguns perguntarão? Qual é a relação que pode haver entre a fofoca, algo tão inofensivo para muitas pessoas, e a maldade do mundo?

Vamos explicar. Todo dia no meu trabalho sacerdotal encontro pessoas, e vocês também, que dizem que há muita maldade no mundo. Que há muitas pessoas más, que querem o teu mal, que estão à espera da primeira oportunidade para passar a perna em você. De fato, infelizmente, esta é uma realidade inegável do nosso mundo. É uma realidade em muitos ambientes de trabalho e até, infelizmente, em muitas famílias!

E agora podemos nos perguntar: de onde surge um mundo como este onde as pessoas querem o teu mal? Surge quando se dá acesso a uma primeira porta da falta de amor entre as pessoas: falar mal delas, fofocar. 
Fofocar, falar mal de alguém quando ela não está presente, é a primeira porta da falta de caridade. Quando eu falo mal de alguém, eu não quero o bem desta pessoa. Daí para o segundo passo, desejar o mal, é apenas um pulinho.
Falar mal de alguém e desejar o seu mal estão unidos na mesma estrada: a estrada do mal, da maldade. E é uma estrada oposta ao que tanto desejamos que é o amor, a civilização do amor.

O amor gera algo maravilhoso: a união entre as pessoas, a solidariedade, a ajuda mútua. Quem ama, vê a todos como irmãos. 
E esta é a verdade, pois todos somos filhos de Deus. 

O amor congrega, une. 
Faz ver os colegas de trabalho como irmãos; a cunhada, a sogra, como irmãos.

Se o amor gera a união, o que gera a fofoca? 
Algo muito perverso: a desunião. 

Um mundo dominado pela fofoca ao extremo seria a lei da selva: salve-se quem puder! 
A desunião máxima: cada um para si buscando seu interesse, onde é inevitável a guerra.

Portanto, grande parte do mal deste mundo, deste ar pesado que se respira em tantos ambientes das pequenas e grandes cidades, o ar da desunião, da crítica, das puxadas de tapete etc, é fruto desta primeira porta da maldade, só aparentemente inofensiva, que é a fofoca.

Façamos, portanto, o propósito de eliminá-la da nossa vida! 
Como dizia um santo, “se é para falar mal, cala-te”! 
Vejamos a todos como irmãos, pois assim o somos. O que fazemos com um irmão que se comporta mal: rezamos por ele, procuramos corrigi-lo. E se ele não quer ser corrigido? 
Continuemos rezando por ele. Mas nunca falemos mal dele. Esta é a atitude de um cristão.

Será um sonho imaginar um ambiente de trabalho, uma reunião familiar, sem fofoca!!! Conheço ambientes de trabalho, famílias, que são assim, onde as pessoas vivem assim. 
Mas disto depende de cada um de nós. 

Comecemos por dar exemplo e, pouco a pouco, vamos ajudando as pessoas a verem todo o seu mal para que também a eliminem das suas vidas. Será o início da construção da civilização do amor.


Padre Paulo M. Ramalho

domingo, 22 de novembro de 2015

Não ter medo de dizer que não



Gosto muito do meu filho — dizia um senhor numa reunião de pais na escola — e procuro que ele se dê conta disso. No entanto, reconheço que algumas vezes o meu filho se porta mal. 
É verdade que ele só tem cinco anos de idade. Mas também é verdade que eu tento não me esquecer desse “detalhe” quando converso com ele sobre o seu comportamento.


«No outro dia, um psicólogo disse à minha mulher que nessas idades ninguém se porta propriamente mal. Simplesmente, faz com inocência algo que ainda não aprendeu que está mal. 
Eu, que não sou psicólogo nem nada que se pareça, não estou nada de acordo com isso. 
Já vi o meu filho portar-se mal. São coisas pequenas, evidentemente, mas ele sabe o que faz e tem consciência disso.

«E para o seu bem, procuro atuar com firmeza — não é sinônimo de violência — e dizer-lhe claramente que “não”. 

Ser claro, para mim, não é o mesmo que gritar. Também procuro explicar-lhe o porquê do meu “não”, de modo que ele possa entender. 

Assim, é mais fácil para ele obedecer àquilo que eu lhe digo, mesmo que não lhe apeteça.


«Muitas vezes, apercebo-me de que ele obedece não tanto por entender o que lhe digo, mas por confiar em mim. Porque sou seu pai. E, além disso, seu amigo. 

A paternidade é um fato. A amizade é uma conquista diária. E essa amizade entre nós também cresce quando ele percebe que eu lhe digo que “não” porque gosto dele — quando seria muito mais fácil para mim não lhe dizer nada».

Que gosto dá ouvir estas palavras tão sensatas! 
Os pais, se amam de verdade os seus filhos, não terão receio de, algumas vezes, dizer-lhes que “não”. Que pena se, por temor a contristar o filho ou a passarem eles um mau bocado, se habituem a ceder naquilo que não devem ceder! 
Quantos remorsos depois com o passar dos anos — e eles passam rapidamente — de não ter sabido dizer que “não” a tempo! 
Tudo se complica. Como diz o povo, cheio de sabedoria, é de pequenino que se torce o pepino.

Não é nada lógico dar aos filhos tudo aquilo que eles pedem. Nem deixá-los fazer tudo aquilo que lhes apetece. 
É preciso manter-se firmes, com uma firmeza amável e delicada que procede do amor. E convém não esquecer que a primeira qualidade do amor é a força para fazer o bem.

E se, depois de ter dialogado com os filhos e ouvido os seus argumentos, eles não gostam ou não entendem uma indicação dos pais? 
Nesse caso, penso que os pais não devem ceder naquilo que verdadeiramente consideram que é importante. O contrário seria claudicar num ponto nevrálgico da educação. 

Mais tarde, serão os próprios filhos a ouvir esse “não” no seu interior diante daquilo que poderiam fazer mas sabem que não devem fazer. 
Mas não nos enganemos: é muito difícil que esse “não” seja interiorizado pelos filhos se antes não foi pronunciado pelos pais.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Spe Deus

Hidratação pelas palavras


Relacionamento se faz no detalhe, na pronúncia, no modo como nos comportamos longe das datas festivas e das folgas dos finais de semana.

Ou se tem uma rotina apaixonada ou se é levado pela agressividade. 
Não identificamos o quanto perdemos inúmeras chances de delicadeza ao longo do dia. 

Desperdiçamos a gentileza com quem amamos.

Parece que a educação deve ser usada para os estranhos, aquele que está ao nosso lado é obrigado a aguentar grosseria, irritação, azedume, maus tratos. 

Entramos no jogo de compensações: quando tristes, maltratamos; quando felizes, festejamos, e não enxergamos problema nenhum nesta alternância. 

É preciso criar um mínimo civilizacional, ainda que nos dias mais trágicos, para não ferir os próximos e não destruirmos os laços com as nossas mágoas. 

Se seguirmos os nossos impulsos, seremos bichos. Morderemos e atacaremos com as palavras.

Ninguém desperta de bom humor (trata-se de uma lenda), o que existe é um redobrado exercício de concentração para sorrir de manhã cedo. 
A docilidade é uma ardilosa construção psicológica e temperamental. Maquiamos o caráter para conviver.

Generosidade, portanto, consiste em atenção lapidada, em refinada vigilância, em não ser tomado pelo impulso egoísta de que o outro tem a obrigação de nos servir e nos entender. 

Só é acabar a água na geladeira que já podemos antever o temperamento de cada um na relação. 

É uma frase inofensiva que traduz uma gama variada de sentimentos. Por uma declaração banal e singela, já antevemos se a pessoa pretende discutir, agredir ou nos confortar.

– Você me deixou sem água? (autoritário)

– Nem água tem nesta casa! (apocalíptico)

– Esqueceu de comprar água? (acusatório)

– Esqueci de comprar água! (culpado)

– Temos que comprar água! (solidário)

– Você não presta atenção em nada! (oportunista)

– Acabou a água, vou sair para comprar! (engajado)

– Você deseja que eu morra de sede? (filial)

– Cadê a água? (curto e grosso)

– Não temos mais dinheiro para comprar água? (inseguro)

– Vamos beber água da torneira por enquanto. (conformado)

– Farei uma lista de supermercado para não esquecermos nada. (compreensivo)

Quando acabar a água, cuide também para não acabar o amor.

Fabrício Carpinejar

A alegria veste a tristeza


Tenho uma predileção por uma frase de Federico Fellini: para a sombra existir, o sol deve estar a pique na cabeça. 
Sem a luz, o escuro não se forma. 
Sem o escuro, a luz não tem sentido. 
O mesmo acontece com a alegria. Dentro da alegria mais genuína, mais intensa, mora a sombra da tristeza. 
A tristeza só existe em função da alegria. É o medo de perder a felicidade que faz com que você se esforce para mantê-la.


Não há alegria inteira, nem tristeza pura, uma depende da outra. Podemos transpirar euforia, mas sobreviverá uma pontinha de melancolia lá no fundo de nosso riso. Porque mantemos a consciência de que a alegria, por mais duradoura que seja, vai passar. Que ela logo se transformará em nostalgia, e que não estaremos mais plenos como daquele jeito de novo – e isso não é ruim e nem é bom, é inevitável da experiência. 
A tristeza dentro da alegria nos permite pensar e entender o quanto aquele momento é importante e que precisamos aproveitá-lo enquanto dura.

A alegria é esta vontade de ser para sempre que termina. A tristeza vem nos consolar a aceitar que o fim de uma lembrança não significa o fim de nossa vida. De igual forma, dentro da tristeza mais severa, da depressão mais aguda, é possível notar a presença de uma alegria discreta, retraída, tímida.


Tudo pode soar péssimo, mas um abraço, um quindim, um filme, o telefonema insistente de um amigo é capaz de nos devolver a vontade de dar a volta por cima. 

A simplicidade é terapêutica, a banalidade nos cura dos grandes males da solidão. 
Haverá sempre o sol por detrás das nuvens escuras dos pensamentos suicidas. Na sombra mais espessa de nosso temperamento, coexistem os raios solares minúsculos do contentamento, das dádivas da rotina e dos pequenos prazeres.
Estaremos desolados com o tempo fechado e chuvoso do rosto, não enxergando nenhuma saída, mas a alegria se conservará perto e nos mostrará que a tristeza também passará, que é uma fase e um ciclo para absorver separações, desentendimentos e traumas. 

A lágrima brilhará como uma vidraça limpa e iluminada. Se a tristeza é saudade dentro da alegria, a alegria é esperança dentro da tristeza.

Nenhum sentimento é definitivo e completo. A luz veste a sombra, a sombra veste a luz. A alegria costura a tristeza, a tristeza costura a alegria. Alfaiates que se revezam no longo pano dos dias.

Fabrício Carpinejar

sábado, 14 de novembro de 2015

Educação do carácter


Ouvi falar de um livro que conta a história de um grupo de rapazes que são os únicos sobreviventes de um acidente aéreo. Sem a ajuda de nenhum adulto, devem organizar a sua vida numa ilha deserta paradisíaca. Tudo parece fácil no começo. 
No entanto, em pouco tempo, comprovam que conviver uns com os outros não é uma tarefa nada simples.


Surgem conflitos, faltas de entendimento e acaba por aparecer a violência e uma guerra aberta entre eles. Fica claro que, apesar da tendência que todos temos para o bem, a maldade está misteriosamente presente no coração humano. 
Sem uma aprendizagem séria dos valores acumulados pela Humanidade com o passar dos anos ― valores cívicos, morais, de respeito mútuo ― os rapazes encontram-se indefesos diante das suas más tendências. 
Não sabem como dirigi-las ou dominá-las. Consideram tudo o que procede do coração como natural e, por esse motivo, bom. 
A bondade confunde-se com a espontaneidade.


É verdade que possuímos um desejo inato de fazer o bem. Mas também é verdade que a nossa natureza está “ferida” e necessita de muitos cuidados ― uma formação esmerada ― para funcionar corretamente. 

Aprender matemática e português é muito mais fácil do que aprender a ser boa pessoa, a conviver com os outros e a semear a paz à nossa volta. 

Este segundo tipo de conhecimento ― teórico e prático ao mesmo tempo ― também deve ser transmitido na escola. No entanto, em primeiro lugar, deve ser assimilado em casa com os pais e os irmãos no ambiente familiar.


É uma ingenuidade atroz muito difundida pensar que o progresso científico e econômico da sociedade, leva consigo obrigatoriamente um progresso moral. 
Que o digam muitos professores de escolas secundárias com quem tenho falado ultimamente. Dizem-me que, hoje em dia, existem meios técnicos para transmitir os conhecimentos como nunca houve no passado. 

No entanto, muitas vezes, falta essa educação básica de saber comportar-se e de respeitar os outros que arruína o bom ambiente na sala de aulas.


São palavras recentes de um professor: 
«Por muito que tente e me esforce, não consigo dar a matéria. A maior parte das minhas energias gasto-as a ensinar os alunos a estarem atentos, a comportarem-se bem, a respeitarem-se uns aos outros. Aquilo que antes se aprendia em casa com os pais, agora tenho de tentar ensinar na escola».

Por muito progresso que alcancemos, nunca será fácil educar moralmente as pessoas. 
Além disso, não se trata de uma educação “acumulativa” ― como acontece com os conhecimentos científicos ― mas de uma educação que deve, de algum modo, começar do zero em cada geração. 

Em matéria de educação moral e formação do carácter é imprescindível o convencimento da parte dos pais e dos educadores da importância primordial que ela possui. 

Que adianta ter muitos conhecimentos científicos se depois não se sabe conviver pacificamente com os outros respeitando-os? 
As notas escolares não são a única indicação para os pais ― nem muitas vezes a mais importante ― de que os filhos estão a progredir na sua formação pessoal.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Felicidade pode demorar


Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
... Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar...é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.

Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver,
até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol,
a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto.
É a força da natureza nos chamando para a vida.

Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram...

Descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez.
E agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes: a relação com a família, as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter), os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento, seus sonhos, ideais e objetivos.

Não deixe de acreditar no amor. Mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá.
Manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam. E certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra.
Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.

Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento,
manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco.
Pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.

Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário.
Existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.
A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem..."


(Este texto é atribuído a Luís Fernando Veríssimo em alguns sites, mas o verdadeiro autor é François de Bitencourt)


terça-feira, 13 de outubro de 2015

Apenas parem



Um dia desses fui com o meu filho em um buffet infantil para festa de uma amiguinha. A música que anunciou que a pista de dança estava aberta para os pequenos foi: “Prepara. Que agora. É hora. Do show das poderosas. Que descem. Rebolam. Afrontam as fogosas. Só as que incomodam. Expulsam as invejosas. Que ficam de cara. Quando toca”. “Show das Poderosas”, da funkeira Anitta.

Festinha do dia das crianças do condomínio ao lado de onde moro, ano passado. Vejo um “pula-pula” sendo montado logo cedo. Escorregador inflável. Avisto um palhaço. Mas sabe como soube que a festa finalmente tinha começado, horas depois? “Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei. Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei. Meu exército é pesado, a gente tem poder. Ameaça coisas do tipo você.”

E comecei a pensar de onde as pessoas tiraram a ideia de que essa música tem alguma relação, mesmo que remota, com o universo infantil. E quero deixar claro que não tenho nada contra a Anitta. Mesmo. Acho que ela tem seu valor, que “Show das Poderosas” deve ser uma música ótima para dançar na balada. Mas não consigo entender como ouvir “descem, rebolam, afrontam as fogosas” pode ajudar na formação ou no vocabulário do meu filho ou de alguma criança deste mundo.

Mas voltemos à festa no buffet para que justiça seja feita, afinal, não foi só a música da Anitta que apareceu por lá . Logo começou uma “gemeção”: “Nossa. Nossa. Assim você me mata. Ai, se eu te pego. Ai, se eu te pego. Delícia. Delícia. Assim você me mata. Ai se eu te pego, ai, ai…”

Gosto muito do Michel Teló. Inclusive já o entrevistei uma vez. Ele faz sucesso no mundo todo, do Brasil à Romênia. Fez com que gente que nunca tinha falado uma palavra de português começasse a cantar na nossa língua. Samuca logo quis saber do que se tratava aquela letra quando assistiu ao clipe de “Ai se eu te pego” no Youtube – a música, patrocinada, aparecia sempre antes do desenho favorito dele. Expliquei, num susto, que o “ai se eu te pego” era sobre brincar de pega-pega. E me senti esperta. Só que na festa eu estava alerta e com medo de não ser tão rápida no gatilho se viesse uma próxima pergunta. Por isso logo tirei meu filho de lá com um argumento infalível: “vamos comer um brigadeiro?”. Dito e feito. “Mulheres na frente, os homens atrás. Mão na cabeça que vai começar. O rebolation, tion o rebolation, o rebolation, tion, rebolation”.

Claro que esse tipo de música não toca em todos os buffets infantis. Claro que a grande maioria de mães e pais tem cuidado na hora de escolher o que os filhos podem e devem escutar quando o assunto é música. Ainda bem.

Aposto que vão chover e-mails dizendo que “não podemos colocar nossos filhos em uma redoma de vidro”. Ou que “essas músicas tocam na rádio o dia inteiro, não há como evitar que eles ouçam” ou que “isso é questão de gosto” e até coisas mais pesadas: “Nossa, Rita, como você é preconceituosa! Funk é um movimento cultural e musical e… ” e blá blá blá.

Só acho mais legal que meu filho saiba que “com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”. Ou que queira “pegar carona nessa cauda de cometa, ver a via láctea, estrada tão bonita. Brincar de esconde-esconde numa nebulosa. Voltar para a casa, nosso lindo balão azul!”

Muito anos 80? Pode ser.

A letra da música preferida de Samuca, menino fabricado em 2009/modelo 2010, é essa: “Acordei com o pé esquerdo. Calcei meu pé de pato. Chutei o pé da cama. Botei o pé na estrada. Deu um pé de vento. Caiu um pé d’água. Enfiei o pé na lama. Perdi o pé de apoio. Agarrei num pé de planta. Despenquei com pé descalço. Tomei pé da situação. Tava tudo em pé de guerra. Tudo em pé de guerra”.

Ontem começou uma chuvona dessas que caem todo fim de tarde em São Paulo. E Samuca comenta comigo, todo feliz e sabido. “Que pé d´água, né, mamãe?”

PS: Obrigada, Palavra Cantada – Sandra Peres e Paulo Tatit – pela graça alcançada.

RITA LISAUSKAS

sábado, 10 de outubro de 2015

Pequenas batalhas, grandes vitórias


Quer saber uma grande verdade?
Não se vence uma guerra sem antes ter lutado, ganhado e perdido inúmeras pequenas batalhas.
A vida tem me ensinado a apreciar minhas pequenas vitórias, ao invés de esperar sempre pelo grandioso sucesso.

Afinal, são esses momentos que nos revelam, que nos transformam na melhor versão de nós mesmos.

Hoje aprendi a enxergar minha felicidade no sorriso daqueles que eu amo. 
Em cada elogio ao meu trabalho. 
Em cada superação dos meus próprios limites. 
Em cada passo dado em direção a um objetivo maior. 
Na satisfação em ver uma meta cumprida. 
Na minha vida. 
Nas pessoas que conquistei, não por minha utilidade, mas simplesmente por ser eu mesma, com todas as minhas imperfeições.

Não me cobro tanto. Não mais. 
Tenho perdido, gradualmente, o medo de errar.

Aliás, vale ressaltar aqui que é errando que se aprende o certo. 
Não há como descobrir um novo caminho se não houver a tentativa. E tentativas, meu caro, implicam em erros. Muitos deles. 
Essa é uma realidade que não aprendemos em escolas. 

Vivemos cercados de paradigmas que nos impõe a perfeição. Não há estímulo para o novo e para a criatividade. 
Tudo tem de ser dentro de padrões e regras. Não há espaço para o questionamento. Enquanto a dúvida é o principal combustível para a sabedoria.

Grandes gênios só foram descobertos porque ousaram. 
Não se conformaram com uma realidade imposta, mas procuraram por sua própria verdade.

Keissy Kelly

As preocupações que matam

Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?



O homem está sempre preocupado. Porque é imenso e infinito, nele há sempre lugar para um mundo de preocupações.

Há muitas preocupações que são mais por natureza e que é preciso eliminar. Mas há outras, verdadeiras e nobres; mas o homem é muito pequeno para carregá-las e mais ainda para solucioná-las. As preocupações matam o homem; se ele quiser viver e viver bem, é preciso que alguém o ajude a carregá-las, “Alguém” que o espera.

Você está doente do fígado
Com dor de cabeça
Uma crise aguda de asma
Você está com úlcera no estômago

ou então

Seus cabelos estão ficando brancos
Seu rosto começa a enrugar-se

ou ainda

Você está cansado e triste:- “Quantas preocupações!”
– “Estou sobrecarregado!”
– “Nunca mais terei sossego!”

e arrasta um pobre corpo sempre contraído e doloroso, um coração esmagado, que vive porque é preciso viver, mas que não sabe o que é a alegria e a paz.

Em grande parte, não seria porque você está cheio de preocupações, de aborrecimentos que, você vem recolhendo e acumulando há anos, que o corroem, que o consomem, e que o desagregam silenciosa, mas implacavelmente?

O que o abala não são tanto os golpes que você recebe do exterior, mas tudo que de mau você encerra em si, e que borbulha, fermenta, apodrece.

O ciúme que o morde, tanto aquele que você admite francamente, quanto o que se esconde atrás de suas tristezas, suas mágoas, suas palavras, seu mutismo.

O despeito de não brilhar, de não ser notado, preferido… o medo de tal pessoa, acontecimento, tentação e medo de desagradar, de fazer “gafes”, de falhar… a cólera e a vingança: ele me pagará, isso não ficará assim, ah! se eu o pegasse!… as dúvidas: não conseguirei, é impossível, muito difícil para mim, ele não me compreenderá.

As saudades do passado: se eu soubesse, se fosse possível recomeçar, nunca me consolarei, ai os “bons tempos”, nunca mais… as mentiras, os ódios, as críticas negativas, as maledicências, as calúnias, as invejas … e todo o resto: a ironia que você destila a cada dia em suas palavras, os seus sorrisos escusos, os seus suspiros, suas “rabugices”, seus dar de ombros, ou as suas manobras. Esse mal que vive em você ou sai de você fere-o, antes de ferir os outros.

Seu coração é imenso, mas está atravancado como um armário mal arrumado. As gerações passadas aí deixaram suas velharias (como lhe legaram seus móveis) e você o vai enchendo de futilidades ou sujeiras. E também de objetos caros que você quer usar de novo… mas que você teima em camuflar. 

A lembrança de tal devaneio malsão, daquela leitura, daquele olhar… O gosto daquela paixão, a satisfação daquela vingança, o prazer orgulhoso daquele brilhante sucesso… Por que você não se acostuma a frequentemente fazer a revisão de suas lembranças, para encontrar aquilo que deveria ter jogado fora?

Há ainda o mal que você sente, vê, toca. Mas há também aquele que está escondido, que desapareceu de sua vista, e há também aquele que você desprezou e esmagou, e que lhe parece morto para sempre.

Nisso você está errado. Tudo o que está dentro de você está vivo. Vivo quando você pensa, vivo quando você não pensava, vivo de dia, vivo de noite. E tudo o que está vivo em você e é mau, faz mal.

Não é possível; aquele velho rancor, essa mágoa de minha sensibilidade dolorida; tal incompreensão, desdém, abandono, desprezo; tal decepção em meus negócios, em minhas relações, em minha família… essa tribulação, aquele pecado… não existem mais, estão enterrados, não voltemos ao assunto!

Não meu caro, eles existem ainda, e mesmo que estivessem mortos, seu cadáver ainda está em você, e seu odor o empesta.

O rato morto no sótão não o envenenará mais… quando você o tiver tirado de lá.

O prego do pneu de seu carro não furará mais a câmara de ar… quando você o tiver tirado.

Sua coleção de preocupações de ontem e de hoje as pequenas e as grandes, as legítimas e as ilegítimas, não o acabrunharão mais, quando você as tiver jogado fora.

Há falsas inquietações, aquelas de que você não deve orgulhar-se e de que precisa definitivamente desfazer-se, pedindo perdão; e há também as preocupações justas: as do pão a ganhar, as do futuro a assegurar, da educação a dar, da paz e da justiça a instaurar, dos homens a conquistar, do Mundo a salvar. 
Essas inúmeras preocupações, acumuladas cotidianamente, em cada instante, em cada gesto, em cada encontro, ao menos essas, será que você deve carregar?

Não, você é muito fraco. Deixe que outro as carregue.
Mas, eu não terei nada que fazer!
Sim, você tem que dar!

Isso é muito fácil!

Não, é muito difícil ser criança, nada reter para si, dar sempre tudo, mesmo as alegrias –para que o outro tudo carregue.
É muito duro caminhar sempre ao seu lado, sempre lhe dando a mão e tornar-se tão pequeno, tão humilde, tão simples, que possa aceitar ser carregada.

Pobre amigo, quando você compreenderá que não pode carregar NADA sem Ele, nem você mesmo?

Michel Quoist

Do site http://cleofas.com.br/ - Prof Felipe Aquino

sábado, 26 de setembro de 2015

Saudade é o amor que fica


Como médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional (...) posso afirmar que cresci e modifiquei-me com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional... Comecei a freqüentar a enfermaria infantil e apaixonei-me pela oncopediatria. Vivenciei os dramas dos meus pacientes, crianças vítimas inocentes do câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento das crianças.

Até o dia em que um anjo passou por mim! Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada por dois longos anos de tratamentos diversos, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de químicos e radioterapias. Mas nunca vi o pequeno anjo fraquejar. Vi-a chorar muitas vezes; também vi medo em seus olhinhos; porém, isso é humano!

Um dia, cheguei ao hospital cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. A resposta que recebi, ainda hoje, não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

— Tio, — disse-me ela — às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores... Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade. Mas, eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Indaguei:

— E o que morte representa para você, minha querida?
— Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e, no outro dia, acordamos em nossa própria cama, não é? (Lembrei das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, com elas, eu procedia exatamente assim.)
— É isso mesmo.
— Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei "entupigaitado", não sabia o que dizer. Chocado com a maturidade com que o sofrimento acelerou, a visão e a espiritualidade daquela criança.
— E minha mãe vai ficar com saudades — emendou ela.

Emocionado, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei:
— E o que saudade significa para você, minha querida?
— Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas, deixou-me uma grande lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores. Quando a noite chega, se o céu está limpo e vejo uma estrela, chamo pelo "meu anjo", que brilha e resplandece no céu.

Imagino ser ela uma fulgurante estrela em sua nova e eterna casa. Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que me ensinaste, pela ajuda que me deste. Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno.

Artigo do Dr. Rogério Brandão, Médico oncologista

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Reflexão (do Coração do Papa Francisco)



Não existe família perfeita. 

Não temos pais perfeitos ,não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. 
Temos queixas uns dos outros. Decepcionamos uns aos outros. 

Por isso, não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. 
O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. 

Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. 
Sem perdão a família adoece. 
O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. 
Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. 

A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. 

Quem não perdoa adoece física , emocional e espiritualmente. 

É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. 

O perdão traz alegria onde a mágoa produziu tristeza; cura, onde a mágoa causou doença. 

(do Coração do Papa Francisco)

domingo, 20 de setembro de 2015

Saber medir as nossas palavras



Estávamos os três a tomar uma cerveja. A esplanada, quase vazia. Depois de um dia extenuante de trabalho, logicamente, o cansaço fazia-se notar. De repente, um deles fez ao outro uma pergunta indelicada, com uma certa ironia e até violência. Mais do que perguntar, parecia que estava a brincar com uma atitude que não entendia. Instintivamente, fiquei à espera de uma resposta à altura das circunstâncias. Mas ela não veio. Pelo contrário, a contestação foi cordial e sem azedume.


Fez-me pensar. Aquela pessoa levava consigo o seu próprio ambiente. Um ambiente que não dependia de circunstâncias nem de provocações. Podendo fazê-lo, por uma questão de “estrita justiça”, não tinha devolvido o mal com o mal. Demonstrava com isto um senhorio de si próprio fora do comum. Ao outro só restavam duas opções: pedir desculpas pelo modo como tinha abordado o assunto ou fingir que nada tinha acontecido. Escolheu esta última por ser a mais cómoda, e, pensava ele erradamente, a menos humilhante. Que diferença tão grande de nível humano em duas pessoas com a mesma profissão.


O meu amigo cordial tinha um tom humano impressionante. Um tom que facilitava o relacionamento mútuo, que fazia com que os outros se sentissem bem ao seu lado. Sabia estar com todos. Irradiava à sua volta um ambiente agradável, de profunda dignidade. Oferecia uma amizade sincera, sem ocultar a sua identidade de cristão coerente por medo a ser rejeitado. E foi devido a essa sua coerência que a pergunta irónica tinha surgido. Ao fazer-lhe ver a minha admiração pelo modo como tinha actuado, respondeu-me: “não há caridade sem respeito, e não há respeito se não sabemos medir as nossas palavras”.


Saber medir as nossas palavras. Quantas vezes ferimos os outros porque não sabemos medir as nossas palavras. E isso não é hipocrisia nem falta de sinceridade. É simplesmente respeito. É capacidade de nos pormos na situação dos outros e descobrir que não gostaríamos que nos falassem assim. Dizer o que pensamos sem pensar no que dizemos, geralmente, é uma atitude bastante irresponsável. É como atirar uma pedra pela janela sem preocuparmo-nos com os estragos que possa provocar.


Cuidar o modo como dizemos as coisas também não é algo superficial. Quantas vezes, tendo alguma razão, a perdemos não por aquilo que dizemos, mas pelo modo como o fazemos. Quase tudo depende da forma de dizer as coisas. Há muitos modos de dizer a mesma coisa e, habitualmente, não é necessário tornar a verdade antipática a ninguém. A verdade é como uma flor. Não é a mesma coisa oferecê-la a alguém ou atirá-la à sua cara. A segunda atitude não é mais sincera, ainda que muitas pessoas nos tentem convencer do contrário.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria

O vaso de porcelana e a rosa


O grande mestre e o guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o guardião morreu e foi preciso substituí-lo.

O grande mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.

“Vou apresentar um problema”, disse o grande mestre. “E aquele que o resolver primeiro, será o novo guardião do templo”.

Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo. “Eis o problema”, disse o grande mestre.

Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?

Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruíndo-o.

“Você é o novo guardião”, disse o grande mestre para o aluno.

Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou: “eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado. Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado, mas que insistimos em percorrê-lo porque nos traz conforto. Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente. 

Nessas horas, não se pode ter piedade, nem ser tentado pelo lado fascinante que qualquer conflito carrega consigo”.

Paulo Coelho

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A voz da avó

E nada mais.



Entrei no pequeno apartamento, gostava dele. Apanhava bastante luz do sol, tinha uma vista incrível da basílica, especialmente ao entardecer.

Aos poucos, fui tornando-o meu. Porta-retratos carregados de amores, sapatos espalhados, livros abertos no chão, temperinhos na cozinha. Depois de uma semana, já era a minha casa.

Noite fria, sentei-me em frente ao computador, santo Skype, tocou, tocou e ela atendeu. No primeiro “alô”, senti como se sua voz, tão doce quanto esganiçada, começasse a se espalhar pelo piso e subisse lentamente pelas paredes, como uma tinta coral aveludada, impregnando cada um daqueles poucos metros quadrados com sua presença, que mais se parecia com um abraço quente.

Não importava o quanto eu gastasse com a decoração. Foi a voz dela que finalmente transformou aquela casa num lar.

A voz da avó. Coisa poderosa. Não importa qual é o timbre, se é estridente, rouca ou tremida. Não importa se é mansa ou gritada. Não importa se é ou não capaz de entoar canções de ninar.

A voz da avó pode dizer tudo o que quiser sem que soe como exigência, afronta ou desaforo. A voz da avó tem carta branca e livre trânsito, não nos acua e mesmo quando pergunta o que não deve, não provoca qualquer sentimento de reprovação.

A voz da avó soa sempre como cuidado, como demonstração genuína de afeto, ainda que, às vezes, por vias tortas.

A mesma frase, na voz da mãe e na voz da avó soa completamente diferente.

“Você não comeu?”

Na voz da mãe é cobrança, na voz da avó é oferta. Na voz da mãe é preocupação, na voz da avó é cuidado. Na voz da mãe é ordem, na voz da avó é doce.

“Você está sem casaco?”

Na voz da mãe, vem bronca, na voz da avó, vem lã. Na voz da mãe é gripe, na voz da avó é chocolate quente. Na voz da mãe é “eu canso de falar pra você se agasalhar”, na voz da avó nunca tem cansaço, mesmo com as cordas vocais já tão gastas.

Longe de ser uma acusação às mães. Muito pelo contrário. Mães são o que tem que ser: educação, firmeza, base. Já avós, podem se dar o luxo de ser o que querem ser: delícia, leveza, afago.

Nem sempre elas dirão coisas boas. Às vezes vão dar seus gritos, seus resmungos, suas reclamadas. Porque são humanas. Aliás, são deliciosamente humanas.

Um dia, quando criança, fiz qualquer bobagem e minha avó me chamou de “sua merdinha”. Achei a maior graça. Acabei até gostando. Incrível como até merda, na voz da avó, vira amor. Incrível como só elas podem dizer certas coisas.

Feche os olhos, ouça sua voz.

Faça uma gravação imaginária. Guarde na sua melhor gaveta. Ouça de novo. Garanta que não esquece. Elas não duram para sempre. Mas a voz delas sim. A voz delas marca- e fica. Ouça enquanto pode e guarde naquela sua gaveta. Na melhor gaveta de todas, já que não podemos simplesmente atracá-las ao peito.


Autor: Ruth Manus
http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

‘Onde está o mundo?’


Aylan foi o mensageiro e a mensagem jogada ao mar. Devolvido pelas águas à mesma praia na Turquia de onde partira rumo à Europa num bote de esperançados, ele próprio era o recado, que dizia: “Eu sou vocês”. Foi sua imagem sem vida que anunciou ao mundo, em linguagem universal, a falência múltipla de humanidade e civilidade em que vivemos.

À notável exceção da chanceler alemã Angela Merkel, a liderança europeia revelou-se uma muralha de insensatez e déficit moral. Como resposta inicial para a maré humana que bate à porta dos fundos do continente, a Europa ergueu muros. Barricadas de arame farpado surgiram primeiro na fronteira da Hungria com a Sérvia. Outras muralhas em outros países da rota dos refugiados estavam previstas.

É a Europa mostrando suas vísceras. Em vão. Já deveria ter ficado claro para o Ocidente tão orgulhoso de sua civilização cristã que apenas a morte interrompe a marcha de um homem movido a esperança. Segundo dados das Nações Unidas, eles já são 60 milhões — entre refugiados, migrantes, exilados, apátridas compulsórios e enxotados de países do Oriente Médio e África do Norte em guerra ou instáveis.

Basta olhar o mapa desses deslocamentos maciços dos anos recentes. A rota do primeiro grande êxodo foi pelo Mediterrâneo Ocidental, na tentativa de fincar pé na Europa através da Espanha. A impermeabilidade do primeiro-ministro Mariano Rajoy em acolhê-los, contudo, encarregou-se de fazer com que procurassem outros traçados.

A rota migratória seguinte coalhou de embarcações negreiras o Mediterrâneo Central, despejando os sobreviventes na costa da Itália. Atualmente a hégira se deslocou para o Mediterrâneo Oriental, com centenas de milhares de almas despejadas na Grécia para, de lá, tomar o caminho dos Bálcãs e um dia recomeçar a vida, quem sabe, na Alemanha.

O menino Aylan sequer conseguiu sair do ponto de partida. E os que sobreviveram à etapa inicial hoje estão sendo tratados como gado na Hungria, uma das fronteiras de acesso à Europa mais rica. Por isso, uma nova rota já começou a ser testada: esta semana os mercadores de pessoas conseguiram levar sua carga humana até o Nordeste da Rússia, para de lá alcançar a Noruega através do Círculo Ártico.

Tenta-se de tudo para escapar da ratoeira húngara em que se encontra uma massa de desesperados que fugiu da guerra e do terror, da morte ou escravidão e suportou em vão a aliança sanguessuga de policiais, bandidos e traficantes. Com o ultranacionalista Viktor Orbán, chefe do governo da Hungria, decidido a “defender o cristianismo europeu do influxo muçulmano” e a “arrancar a Europa da sua obsessão com imigrantes e refugiados”, o bloqueio de seu país ao trânsito migratório chegou a um ponto de ebulição na noite de sexta-feira.

“Onde está o mundo?”, indagava o cartaz tosco empunhado por um dos refugiados da estação ferroviária de Keleti, impedidos de seguir viagem.

Onde está o Ronald Reagan de hoje para proclamar “Viktor Orbán, derrube este muro?”, como fez em 1987 o presidente americano diante do Portão de Brandemburgo, em desafio ao secretário-geral soviético Mikhail Gorbachev? Hoje, do outro lado do Atlântico, está Donald Trump, que, para conquistar a Casa Branca, promete construir um muro intransponível na fronteira com o México.

Onde está algo próximo ao Kindertransport (transporte de crianças, em alemão), a extraordinária operação humanitária que transportou de Praga até Londres dez mil crianças, em grande maioria judias, às vésperas da Segunda Guerra, salvando-as do holocausto? Na República Tcheca de hoje, policiais retiram refugiados de trens usando a força e ainda lhes atribuem números de registro nos braços ou punhos, a caneta. Felizmente, não foram tatuados, como nos campos de concentração nazistas.

Onde está o similar de corredor humanitário de 1948? Durante o bloqueio soviético de Berlim, uma ponte aérea militar conjunta de ingleses e americanos realizou mais de 200 mil voos para levar comida e suprimentos aos berlinenses em apenas um ano. Hoje, a Inglaterra do conservador David Cameron absorveu apenas 216 do total de quatro milhões de refugiados sírios que fugiram da guerra — número inferior à capacidade de uma única composição do metrô londrino.

Até a imagem do menino Aylan cobrir de opróbrio o planeta Terra, Cameron qualificava os migrantes de “enxame” e seu chanceler Philip Hammond alertava o país contra “saqueadores” africanos que ameaçam o “padrão de vida europeu”. O tabloide conservador “Daily Mail” ecoava: "Mantivemos Hitler fora daqui... Por que nossos líderes não conseguiriam impedir a entrada de alguns milhares de migrantes exauridos?”

A mudança veio da rua, das mídias sociais e conta com a determinação resoluta e decisiva de Angela Merkel. “O seu colega é judeu, seu carro é japonês, sua pizza é italiana, sua democracia é grega, seu café é brasileiro, (...) e você chama seu vizinho de estrangeiro?”, postou uma internauta inglesa inconformada com a indiferença de seus conterrâneos em relação ao outro. Quando o diário de maior circulação da Inglaterra, o eurocético e conservador “The Sun”, mudou de lado e escreveu “Mr. Cameron, acabou o verão... É hora de enfrentar a crise mais grave que a Europa enfrenta desde a Segunda Guerra”, o primeiro-ministro piscou. Cameron está revendo sua política migratória.

Da Islândia, a carta aberta a um ministro, postada por uma escritora de 33 anos, Bryndis Bjorgvinsdottir, levou dez mil compatriotas (4% da população do país) a oferecerem casa, comida, aprendizado da língua e inserção no país a famílias de refugiados. O texto que tanto mexeu com aquela gente de vida isolada, próxima à Groenlândia, dizia:

“Os refugiados são nossos futuros maridos e mulheres, melhores amigos ou almas gêmeas. Eles são os bateristas da banda dos nossos filhos, nosso futuro colega, a Miss Islândia 2022, o carpinteiro que finalmente vai terminar o banheiro, o atendente da cafeteria, o bombeiro, o gênio da informática ou o apresentador de televisão. Pessoas às quais jamais devemos poder dizer no futuro que suas vidas valem menos do que a minha”.

A curta vida do menino Aylan valeu muito: despertou o mundo.

Dorrit Harazim é jornalista
http://oglobo.globo.com/

sábado, 5 de setembro de 2015

No deserto de Mojave


No deserto de Mojave, é frequente encontrarmos as famosas cidades-fantasma: construídas perto de minas de ouro, eram abandonadas quando todo o produto da terra tinha sido extraído. Haviam cumprido seu papel, e não tinham mais sentido.

Quando passeamos por uma floresta, também vemos árvores que, uma vez cumprido seu papel, terminaram caindo.

Mas, diferente das cidades-fantasma, o que aconteceu?

Abriram espaço para que a luz penetrasse, fertilizaram o solo, e seus troncos estão cobertos de vegetação nova.

A nossa velhice vai depender da maneira que vivemos o momento presente. Podemos terminar como uma cidade- fantasma, simplesmente abandonados. Ou então como uma generosa árvore, que continua a ser importante, mesmo depois de caída por terra.

Paulo Coelho - 

Do medo


O guerreiro da luz fica apavorado quando precisa tomar decisões importantes.

“Isto é grande demais para você”, diz um amigo em quem confia. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro amigo em quem confia. E suas dúvidas aumentam.

Depois de alguns dias de angústia, ele recorre ao melhor conselheiro de todos: o escuro do seu quarto.

Nas sombras, ele vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e prejudicadas por sua atitude. Sabe que, ao dar um passo adiante, deixará alguma coisa - ou alguém - para trás. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.

O guerreiro que observa a si mesmo deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer ‘sim’, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer ‘não’, ele dirá sem covardia.

Paulo Coelho - http://g1.globo.com/

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

QUANDO VOCÊ DESCOBRE QUE NÃO QUER OUTRA VIDA

A vida pode ser tão boa para você quanto você é para ela. Portanto, resgate-a de qualquer sofrimento e dê a ela as cores que merece!

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Desde a infância fazemos planos e sonhamos com o que queremos ser no futuro, com o lugar que desejamos morar, com as coisas que poderemos ter, com as pessoas que iremos conhecer e compartilhar momentos de nossa vida.

E tudo isso faz parte do caminho saudável que percorremos, são essas ideias e esses sonhos que nos movimentam e nos fazem crescer. E cada um tem seu desejo próprio, seu ritmo de motivação, sua força e sua coragem.

Sempre perguntam aos pais: “o que você sonha para seu filho no futuro?”; e muitos já têm uma resposta pronta, um plano completo idealizado que só falta o filho cumprir.

Certa vez ouvi uma resposta brilhante para essa pergunta: “sonho que meu filho realize os próprios sonhos!”. E esse pensamento, de alguns poucos pais, muda todo o sentido da história, todo o futuro que está por vir.

Mas é muito difícil para a família estar aberta a esse processo, pelo simples fato de que não foi ensinada a pensar dessa forma. Portanto, não devemos culpá-la por isso.

E assim vamos vivendo, uns com a sorte de realizarem seus próprios sonhos, outros com a missão de cumprir o desejo alheio.

Águas vão rolando e frustrações vão surgindo, o que nos direciona a querer sempre mais e idealizar novas realidades, pois a nossa nunca é o suficiente para nos fazer feliz.

Esquecemos então daquele colorido da infância e de nossos desejos genuínos porque resolveram sonhar em nosso lugar, porque decidiram tomar as rédeas da nossa vida.

Nos esquecemos também que podemos resgatar toda essa história, que ela permanece guardada lá no fundo do coração.

Quando nos damos conta disso, não desejamos mais outra realidade, não queremos mais outra vida que não a nossa. Tudo se torna maravilhoso!

Nós somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que sentimos, pelo que passamos, e pelo que ainda iremos viver.

As cores da alegria estão dentro de nós o tempo todo, prontas para serem jogadas para fora e para nos causar aquela mesma sensação da infância, de quando tudo tinha seu gosto original, cheio de talento e criatividade.
A partir daí, você descobre que não quer outra vida, que ainda que você ganhe hoje na loteria não desejaria outra casa que não o lar em que já vive.


CHRISTIANE AFONDOPULOS

sábado, 8 de agosto de 2015

Ser pai

Pensando na família...datas especiais provocam saudades, um misto de nostalgia, também.. 


“Acreditar que basta ter filhos para ser pai é o mesmo que pensar que basta ter um instrumento para ser músico.” 

O extraordinário tem um papel pedagógico: realçar o rotineiro, agregando significância. Pai e mãe são diários, presença instantânea, relação vital. Porém, num dia específico vem à tona um caudal de sentimentos que mexe e remexe a interioridade, aguçando lembranças, provocando olhares mais demorados. Até o abraço acaba tendo um outro ‘sabor’. 

A gratidão se evidencia, as mágoas desaparecem, trégua à disciplina. Nada substitui uma família unida e reunida. 

São poucos os momentos onde a unidade se transforma em motivo de festa. 

Ser pai vai muito além do que simplesmente ter gerado filhos. Não é um conjunto de tarefas e obrigações. É um dom que ultrapassa o entendimento. 

Ser pai é sentir com o coração o milagre da vida. É acompanhar o crescimento, é ser plantonista do amor. Nem sempre é permitido interagir, privilegiando a quantidade de tempo. Mas sempre será possível qualificar a convivência, entrelaçar pertença, festejar a essência. 

Ser pai é ser inspiração, não escondendo a emoção. Ao olhar para a vida que fora gerada, um pai deveria derramar interiormente lágrimas de alegria. Pois nada é mais maravilhoso do que participar da obra da criação. 

Ser protagonista de uma nova existência é ser artista de uma inexplicável obra-prima. Um pai é chamado à contemplação. É maravilhoso olhar com ternura e demoradamente o filho gerado. 

É segurar no colo, independentemente da idade e do peso. Filhos são para sempre. Essa relação é regada por um eterno amor. Algo profundamente místico e encantador. 

Que a proximidade entre pai e filho aconteça harmoniosamente. 
Tornar a relação familiar uma contínua festa não é difícil. Basta deixar-se invadir pelo amor à família, que é comprovadamente a maior de todas as riquezas. 

Família: caminho de felicidade. Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraço!

Frei Jaime Bettega

sábado, 1 de agosto de 2015

Gaia está de TPM


Os gregos tinham Deuses para tudo. Uranus era o céu, Apolo era a luz, Poseidon era o mar – e Gaia era a Terra.

Sim, nosso planeta é mulher. Gaia: substantivo feminino. Faz todo sentido. Primeiro, pelo monte de filhos que ela teve – as montanhas, os rios, as florestas. Coisa muito natural; este rochedo que habitamos é realmente fértil como uma mãe. E Gaia é bonita, charmosa, tem a beleza inerente às fêmeas. Um encanto que nota-se de longe; chega a dar inveja nos outros planetas do sistema. Sinceramente, se eu sou Marte já estaria vendo com o Doctor Ray um jeito de melhorar aquelas crateras. Gaia também adora tomar um sol; precisa disso pra viver. É friorenta. Igual muita moça.

Mas é no humor que temos a prova definitiva que nosso planeta é do sexo feminino. Não cutuque com vara curta que a vingança será olímpica – pra ficarmos no universo dos gregos. Abateu metade da Mata Atlântica? Gaia castiga tirando a chuva da gente. Usou bastante desodorante spray? Gaia manda abrir um buracão na camada de ozônio. Jogou carbono na atmosfera? Ela aumenta a temperatura em dois graus e derrete a Groenlândia.

Gaia é dose; não queira tê-la como ex-mulher.

Ainda mais se ela estiver de TPM.

E são grandes, hoje, os indícios de que nosso planeta está com a síndrome. Gaia anda raivosa e bipolar. Petrobrás, futebol, religião, casamento gay, pode escolher o assunto. Garanto que causará o ódio. Gaia também está com a sensibilidade muito exagerada; qualquer coisinha e ela chora. De Jack Sparrow visitando hospital a fuzileiro americano reencontrando cachorro. A auto-estima anda baixa, também. Claro, todo mundo achando que não existe saída, quem não ia ficar deprê ? E a pele, então ? O que tem aparecido de vulcão em Gaia ? Só no Havaí são dois por ano.

(Infelizmente, basta conferir para a Cantareira pra ver que Gaia não está retendo líquidos – como acontece na TPM. É o único indício que não bate).

Então, como faz ? Qual é a estratégia quando o planeta está com TPM ? Temos que conviver – gente e planeta. Aí, imagino que, sendo Gaia ou Jaqueline ou Márcia, tem que funcionar como em todo relacionamento. Se a moça está com TPM, o resto da humanidade precisa ficar esperto. Tem que saber lidar.

Evitar assuntos que irritem Gaia é um começo. Política, por exemplo. Sim, eu sei, não podemos ser alienados – mas então vamos ter educação. Dar colo e atenção é básico. E, jamais, nunca, em hipótese nenhuma, falar “Gaia, você está assim por causa da TPM”. Vixe, isso tira qualquer mulher do sério. Os dinossauros fizeram muito menos, e olha o que aconteceu. Gaia realmente se desforra. Mandando meteoros, terremotos e coisa até pior. Vamos ter cuidado. Se continuar essa TPM por muito tempo, virão tsunamis em sequência. Ou outro Justin Bieber. Certeza.

LUSA SILVESTRE

Blog Xavecos e Milongas - Estadão

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Família: a Escola e o Hospital mais perto



Durante a sua viagem à América Latina, o Papa Francisco quis falar da família logo no primeiro país que visitou, o Equador. Uma abordagem em sintonia com a realização do Sínodo da Família, em Outubro. Fê-lo de um modo brilhante e carinhoso, colocando diversas questões e desafios.

Ficou célebre a sua frase: «a família é o hospital e a escola mais perto», explicando que é na família que cada pessoa pode ser ajudada e socorrida, com amor e carinho, em tempos difíceis, como é na família que se aprende a viver, a amar, a servir, a ter atitudes boas e justas.

Se a família é boa, com critérios e valores éticos, o amor vai fazer que haja união e paz, que não haja ninguém 'descartável', que as crianças não sejam desprezadas e tenham carinho, que os idosos não sejam colocados a um canto e recebam amor, que os esposos se estimem, amem, ajudem.

Lembro-me de um acontecimento que vem a propósito da história que o Papa contou acerca da sua mãe, dizendo que quando lhe dói um dedo, lhe doem todos; quando um filho anda mal, parece que todos a fazem crescer na atenção, no amor, na dedicação. Mas vamos ao acontecimento que desejava contar.

Estava eu à mesa com várias pessoas amigas e de família, quando uma médica nos disse: «Perguntei a uma paciente minha, mãe de vários filhos, de qual deles gostava mais. A mãe de família, simples e modesta, mas cheia de sabedoria e de experiência, respondeu: 'do filho que está doente e do que tarda em casa'». 
Seja ele qual for, mais novo ou mais velho, mais esperto ou menos, mais bonito ou mais feio, pouco importa: «ama o que está doente, seja ele qual for, e o que tarda em chegar a casa, porque não dorme sem o ouvir chegar». Que resposta maravilhosa e sábia. Que encanto! É assim o amor quando é verdadeiro.

A família, se é mesmo família, unida e com paz, espaço onde há carinho, diálogo, respeito, amor, é o hospital mais perto, pois todos se unem a tentar curar dores e feridas, sofrimentos e tempestades, situações difíceis. E é a escola mais perto, onde o amor faz viver e aprender a riqueza das relações justas, sinceras, delicadas, carinhosas.

Mas hoje damo-nos conta que há muitas famílias sem pão e sem amor, sem paz e sem diálogo, sem carinho e sem meios que ajudem a crescer na estima e na alegria. Há 'cancros familiares' gerados pelo adultério, pela falta de diálogo, pela falta de atenção e carinho de uns com os outros. 'Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão' afirma o adágio popular.

Sem emprego e sem ordenado justo, como pode haver paz e alegria, carinho e doação mútua? 
Sem respeito e delicadeza entre o pai e a mãe, como podem os filhos crescer no amor e no desejo de serem bons? 
Se os idosos da casa são colocados de lado e desprezados, como podem os jovens da família crescer na estima e no amor para com eles?

'Casa de pais, escola de filhos' afirma outro sábio provérbio popular. E todos constatamos que é mesmo assim. A família é o hospital e a escola mais perto. 
Um lar em harmonia é um dom precioso. O amor floresce como as flores e exala perfume.

Vamos esquecendo muitas vezes que família que não reza, não é 'igreja doméstica' viva, unida, em harmonia e dedicação. 
Se Deus está presente, tudo se renova e vivifica, há mais paz, mais amor, mais verdade. 
Há mais alegria, mais encanto, mais força para amar e servir, mais capacidade de diálogo e de perdão. 
O Deus que é Amor vai fazendo maravilhas no seio da família.
Dário Pedroso, s.j.

sábado, 25 de julho de 2015

Coração de mãe e pai sofre


Desde que tomamos a decisão de ter um filho a dor começa a marcar presença, de uma forma ou de outra, mesmo com tantas expectativas o medo se torna nosso parceiro diário.

Primeiro se está correndo bem a gravidez, o medo de algo errado acontecer, se o filho nascerá bem. São tantos os conflitos que não dá para imaginar que toda a gravidez é cor de rosa. Lembro-me de quando estava esperando o primeiro filho e liguei para minha ex-terapeuta contando a novidade, ela já me alertou para colocar os pés no chão, afinal seriam noites sem dormir, criança chorando, eu e o pai sem saber muito bem o que fazer e assim começaria uma nova jornada a três.

E mesmo com um parceiro calmo nesse novo caminho, como eu também sou, a angústia, a dor e o medo marcam presença. Com quem vou deixar, que escola vou escolher, se vão cuidar bem, e assim, inúmeras situações vão acontecendo e nós pais vamos nos adaptando e experimentando essa nova fase de vida permeada de novidades e descobertas.

Aí nosso filho vem da escola com uma mordida imensa na bochecha, vêm as febres que nos tiram várias noites de sono e que ficamos apreensivos. Assim vai correndo o tempo e aos poucos achamos que ficará cada dia mais tranquilo.

Mas essa tranquilidade claro que dura pouco, lembramos lá de trás quando tomamos a decisão de aumentar a família e percebemos que romantizamos demais.

Chegou a adolescência!

Uma nova fase, para alguns pais mais tranquila e para outros um momento de confronto, não somente com o novo ser que vai mudando a forma de ser e agir, mas também em relação ao que acreditamos ser o melhor para ele e nem sempre é. Os valores passados são confrontados, eles percebem e vivem com outros referenciais de vida, convivem com a família de amigos, se identificam com os grupos que estão inseridos.

E a sexualidade? Apesar de ser um momento natural como lidar com os impulsos que começam a apresentar? Será que sempre conseguirão seguir os conselhos em que são orientados?

Chega o momento da escolha da profissão ainda que não estejam certos de qual caminho seria o ideal, a pressão de alguns pais que não entendem que tem em casa ainda uma criança crescida, vira um imenso buraco na cabeça desses pequenos adultos. Medo de crescer, de voar, de assumir responsabilidades, de lidar com a sexualidade, primeiro beijo, primeira transa.

E aí nem vou me estender mais, pois os resultados são diversos, crescem e vão trabalhar fora (ou não, caso tenha criado um folgado), escolhem um parceiro de vida, muitas vezes bacana, outras vezes prevemos um desastre.

A questão é somente uma: precisamos estar muito conscientes de nossas escolhas, filho não é boneco para brincarmos de sermos pais, eles exigem muito de nós, é preciso muito amor, muita calma, muita responsabilidade e muita presença.

Não dá para fazer de conta, é preciso assumir que a partir que saem da barriga é nosso para sempre, as preocupações, a assistência e o colo devem estar disponíveis, sem data de validade.

O que posso dizer da minha experiência até o momento? Maravilhosa, com todos os medos, com a primeira mordida que chegou da escola, com braços e pés quebrados, com cirurgias necessárias, podemos dar conta, desde que saibamos identificar se estamos mesmo preparados para essa grande missão de sermos pais no sentido exato da palavra, junto com todas as situações que a partir de então surgirão.

E você, acha mesmo que pode dar conta?

LUCIANA KOTAKA

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Por que Deus não me responde?



Às vezes parece que Deus se torna mudo diante do nosso sofrimento; mas não é assim.

Alguém já disse que “Deus não fala, mas que tudo fala de Deus”. Isto é, Deus fala pela Revelação e pela vida, mas esta linguagem tem de ser decifrada. 
Seus silêncios parentes são sábios e nos obrigam a exercitar o ouvido da alma, e criar novas antenas e ouvidos interiores, para ouvir a sua voz.

Só podemos ouvir a voz de Deus se caminharmos na fé, sem desanimar, fazendo a Sua vontade diariamente e com fidelidade.
 
“O justo vive da fé”, diz São Paulo (Rm 1, 17);

 “Quem perseverar até o fim, será salvo”, acrescenta o Senhor (Mt 10, 22).

Deus não é indiferente diante dos acontecimentos deste mundo. Até o salmista tem a tentação de agir como os maus… mas depois entende a sua triste sorte:
“Por pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus passos deslizavam. 
Porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios. 
Para eles não existem tormentos, sua aparência é sadia e robusta; 
a fadiga dos mortais não os atinge, não são molestados como os outros…
Refleti para compreender, e que fadiga era esta aos meus olhos! 
Até que entrei nos santuários divinos: entendi o destino deles! 
De fato, tu os pões em ladeiras, tu os fazes cair em ruínas. 
Ei-los num instante reduzidos ao terror, deixam de existir, perecem por causa do pavor!… 
Sim, os que se afastam de Ti se perdem… 
Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!”. (Sl 72, 2-5. 16-19.27s)

A Bíblia nos mostra que é exatamente nos momentos de maior luta, conflito, desespero e perplexidade que Deus prepara as suas ações mais belas.

A Páscoa cristã e a glória da Ressurreição de Jesus foram precedidas da cruel e dolorosa Paixão do Senhor, que deixou os Apóstolos atônitos e perdidos. 
Mas, na manhã do domingo, ficava claro que o “fracasso” do Mestre se transformara em inacreditável vitória sobre a morte.

Então, tudo se fez novo… Ele ressuscitou como o Kyrios, o Senhor da vida e da morte; a vida venceu a morte, as trevas foram dissipadas pela luz.

Deus já tinha prefigurado isto na história de Israel; quando da primeira Páscoa dos israelitas: estes se viram presos entre o Mar Vermelho e o exército do Faraó que os perseguia; não viam solução e muitos lamentaram e se desesperaram; mas Deus interveio de modo espetacular:

“O Senhor disse a Moisés: Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar”. (Ex 14,9-16)

E o povo de Deus atravessou o mar a pé enxuto, enquanto os inimigos se afogaram. São os “paradoxos” da Providência Divina.

É no silêncio de Deus que o cristão aprende a crescer na fé e na confiança no Senhor. Não sejamos crianças na fé.

É preciso, então, não se deixar afundar na hora da tormenta, mas esperar com fé na Providência divina que não falha. No meio do fogo das tribulações, é preciso continuar a caminhar, ainda que gemendo e chorando, “como se visse o Invisível” (Hb 11, 27).

Este “avançar na fé” pode ser comparado a um complicado jogo de “quebra-cabeça”; no seu início não temos a menor ideia do quadro a compor, parece que o quebra-cabeça não tem solução, a charada é desafiadora, mas, devagar, com paciência, vamos juntando as peças…começa a surgir alguma coisa. Ao se combinar as peças começa a aparecer o quadro, e então, vai ficando cada vez mais fácil, até o fim.

O plano de Deus para nós é assim; os fatos da vida, isolados, parecem não ter sentido, como as peças misturadas do quebra-cabeça, mas, quando os vamos juntando na fé e analisando-os na esperança, vemos a sua mensagem. 
Às vezes é preciso olhar peça por peça, sem saber qual é a próxima que virá. Mas é preciso ir em frente, caminhar com perseverança.

A grande Edith Stein disse uma bela verdade: “Não sei para onde Deus me leva, mas sei que é Ele que me conduz”. Isto basta. 
Não podemos esperar que a mensagem esteja decifrada para começar a caminhar; assim não começaríamos nunca a viagem.

Nunca encontraremos um discurso de Deus para nós, pronto e claro, e nem um caminho nitidamente traçado; não, Deus nos conduz no “escuro da fé”, onde Ele vai nos falando durante o caminho, como fez com os discípulos de Emaús. 

E, se não caminharmos, não ouviremos a Sua voz.

Por que Ele age assim? Na sua sabedoria infinita Ele tem motivos para agir assim conosco; logo, cabe a nós não nos calarmos diante Dele, mas responder na fé e na oração incessante. “O justo vive da fé”, diz São Paulo (Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38).

Mais do que a nossa vitória, Deus espera a nossa luta determinada, com fé e perseverança. 
Quem tem fé sabe que não existe destino, acaso cego ou fatalidade, mas Providência divina, cuidado de Deus que tudo criou e que tudo providencia para o nosso bem. Mesmo dos piores sofrimentos Deus sabe tirar coisas boas, especialmente para a salvação da pessoa. Esta é a nossa fé!

Na terra, a vara de Moisés se transformava em uma horrível serpente, mas nas mãos de Moisés era milagrosa. Com ela Moisés feriu a rocha e dela brotou água no pleno deserto; com ela abriu o mar Vermelho.

Com a feiura de nossas tribulações, Deus pode fender a rocha dura do nosso coração e fazer brotar a água da graça.
Ninguém conhece os caminhos da Providência divina, por onde Ele passa, o que quer com este golpe, o que está fazendo com esta aflição, morte, fracasso, desemprego…
Muitas Ordens religiosas foram provadas terrivelmente até se firmarem. Mas, porque os seus fundadores não desanimaram e não desistiram, a Igreja se tornou rica e santa por causa delas.

Prof. Felipe Aquino

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Olhando os outros



Gilberto de Nucci tem uma excelente imagem a respeito de nosso comportamento. Segundo ele, os homens caminham pela face da Terra em fila indiana, cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.

Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades. Na sacola de trás, guardamos todos os nossos defeitos.

Por isso, durante a jornada pela vida, fixamos os olhos nas virtudes que possuímos, presas em nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente, nas costas do companheiro que está adiante, todos os defeitos que ele possui.

E nos julgamos melhores que ele - sem perceber que a pessoa andando atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.

Eduque o seu olhar; olhe para cima!

Li uma mensagem que dizia o seguinte:


Se você colocar um falcão em um cercado de 1m², inteiramente aberto em cima, ele se tornará um prisioneiro, apesar de sua habilidade para o voo. 
A razão é que um falcão sempre começa seu voo com uma pequena corrida em terra. Sem espaço para correr, nem mesmo tentará voar e permanecerá um prisioneiro pelo resto da vida, nessa pequena cadeia sem teto.

O morcego, que é uma criatura notavelmente ágil no ar, não pode sair de um lugar nivelado. 
Se for colocado em um piso completamente plano, tudo o que ele conseguirá fazer será andar de forma confusa e dolorosa, procurando alguma ligeira elevação de onde possa se lançar ao voo.

Um zangão, se cair em um pote de vidro aberto em cima, ficará lá até morrer ou ser removido. 
Ele não vê a saída no alto, por isso persiste em tentar sair pelos lados, próximo ao fundo. 
Procurará uma maneira de sair onde não existe nenhuma, até que se destrua completamente de tanto se atirar contra as paredes do vidro.
Existem pessoas como o falcão, o morcego e o zangão: atiram-se obstinadamente contra os obstáculos, sem perceber que a saída está logo acima.

Se você está como um zangão, um morcego ou um falcão, cercado(a) de problemas por todos os lados, olhe para cima! E lá estará a saída:

Deus…

À distância de uma oração!

Quando você não enxergar mais uma saída, não fique inquieto se debatendo desesperado, ou desanimado de uma solução; e também não fique andando de um lado para outro, como um tonto. 

Não, olhe para cima. Entregue-se confiante nas mãos de Deus que é Pai. 
Ele sabe o que se passa com você, e sabe qual é a saída; mas você só a encontrará se olhar para Ele, se olhar para cima. 

Vá a Igreja, entre silencioso diante Dele no Sacrário, ponha ali em Suas Mãos o problema, derrame suas lágrimas se for preciso, mas Confie! 

“Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11,6). 
“O justo vive pela fé” (Rom1,17). 
Não se aflija, “Até os cabelos de vossa cabeça estão contados” (Mt 10,30).

Professor Felipe Aquino